16 de ago. de 2010

As roupas assim como todas as outras coisas vão sendo substituídas. Sempre tive essa consciência, mas nunca tinha parado pra pensar nisso, e me peguei entendendo como tudo é mutável. A pele que a gente perde sem perceber, as unhas que crescem e são cortadas, os sapatos surrados, marcados pela caminhada ou pelos passos de dança, o bikini que perde a elasticidade, o livro de português obsoleto, o sofá que troco por um novo, e o antigo vira novo em outra casa, etc, etc.
Hoje atentei para o fato de trocarmos as relações também. Os amigos que continuam por perto, mas não tão juntos, os números de telefone discados que saem em ordem diferente e com menor ou maior frequência, os assuntos que são senso comum e os que passam de boca em boca num off que todo mundo ouve, mas faz de conta que não sabe de nada, os namorados que são sofás, igualmente reciclados de uma casa pra outra, ou de um casal pro outro.
Enfim, me deparei com uma única troca que não me parece interessante, ou que não gostei de ter visto: a troca de uma amizade secular por um corpo escultural e uma honra já estuprada. Esse é um sofá que não proporciona conforto, nem descanso. Machuca as costas de quem se senta e causa danos irreparáveis a coluna vertebral do grupo a que se faz parte.

PS.: Prefiro a feiúra íntegra do que o lindo diabo loiro que se veste de vermelho.

Carola Bitencourt
16/08/2010

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