14 de fev. de 2014

Mais do mesmo, fora de ordem


Se sozinha na mesa
o caderno pede o risco
da caneta, da palheta
de cores contidas
nas letras pantonadas
É importante lembrar
quando o postante acontecer
que o tamanho da folha
vai ditar a dimensão do
verso
e que a conotação dada a ele deve ser recalculada.
Há muito desacostumei com o papel de escritora, até acostumei, embora não me considere digna da definição já direcionada a minha mão trêmula.
Me parece que é necessário, tanto quanto prazeroso, refazer essa relação natural e esse Moleskini tem caído como moletom em noite de frio no corpo para o meu pulso já quase atrofiado pelo desuso. Até gosto do digitado, das ferramentas facilitadoras de conteúdo: Google, sinônimo, relógio, rapidez pra acompanhar a chegada dos trocadilhos na construção do concretismo das consoantes e do cimento das vogais. Mas...
      ... É Simples! Há algo de poético na tinta deliberada e controladamente disposta nessas linhas finas, nessas folhas claras, esperando a estampa gráfica dessas palavras florindo geométricos círculos, por vezes cortados por retornos ou voltas menores ou elipses disléxicas, e tantos etcéteras quanto pode caber num texto livre e feito por puro gosto, sabor e satisfação de não seguir regra, não atender expectativa e nem estar obrigado a ser bom, e por isso ser.
Há liberdade.
A liberdade.
Essa que só te priva de prender os dedos ou de perder a vontade de suspirar aliviado. Respira-se a sensação de gargalhar sem motivo aparente. Vive-se o processo de trazer a tona o que os olhos transparentes não alcançam expressar.
Escrever a caneta traz de volta o sentido cru, o processo físico, biológico, original, de absorver no músculo a realização. Vem até o ombro a fadiga por esforço e essa resposta corporal vivaciona a delícia de fazer, ter feito, terminar o que se pretende.
Se existe final melhor que o de cumprir uma proposta de si para si, certamente não passa pelas linhas de um caderno.

Carola Bitencourt
12/01/2014

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