21 de set. de 2011

Vi um vídeo da Esperanza Spalding agora a pouco. Como sempre me atendo a cada detalhe, além da qualidade, atentei para o combinado da vestimenta dos músicos que a acompanhavam. Quase terno, cabelos terminantemente convencionais e um talento nada parecido com a imagem estereotipada de um bom músico, ou os que a gente reconhece por aqui. Me lembrei deles. Esses músicos nossos que se esforçam tanto pra parecerem artistas e que aumentam cada vez mais sua esquiZitice pra destacar-se dos demais mortais que a seu ponto de vista não são artistas por não fazerem parte do que eu chamo de arte convencional (Dança, Teatro, Cinema, Baixo, Bateria, Pincel, ...).

Coisa essa, aliás, que caberia em outro texto, mas que defino aqui em algum pedaço deste: Considero arte qualquer trabalho bem feito. O cara que toca um violão de rodinha de luau e se considera o tal por fazer o melhor que pode, é nada mais que um mero aspirante a centro das atenções. Me vale muito mais como artista um engenheiro que não deixa o prédio ruir, ou o barco afundar. Artista não está no que se faz, mas em como é feito.

Travo a respiração quando percebo que um “poeta” me vem vender seus versinhos copiados do jornal de domingo (que nunca imprimiu poesia) e enche a boca vazia de dentes ou boas ideias pra dizer que É poeta. Assim como me inoja gente quem me critica por eu não dizer que sou poeta, quando me assumo nada mais que uma exercitante da língua. E me basto por isso, por essa!

A crítica cai, o ofício fica.

Então, lembrei de como minha visão liberta está subordinada a estas mazelas ensurdecedoras fincadas no meu, e talvez também no seu, fluido neuronal. Não reconheceria estes dois sujeitos acompanhantes desta MULHER com todas as maiúsculas, diga-se de passagem, caso não os visse impondo suas ferramentas.
Fiquei pensando em como já estive a mercê dessa alcova covarde de julgadores de essência espalhados por esse mundo. Por muito tempo achei que minha veste, fosse minha pele, e que minha pele deveria transparecer o que reluz por dentro do meu crânio. Oh!

Parei há tempos com esse desespero.

O que define um artista não é seu ar despenteado, nem seu all star surrado. Tampouco sua “blazezice” ou sua camiseta Clockwork Orange tatuada toda sexta feira no peito. O que define um artista é não enferrujar, é ser nerd tanto quanto sua tarefa lhe exige. É usar a matemática física do gasto de tempo com o exercício e a prática infindas do que se tem de fazer cada vez melhor: ARTE.

Carola Bitencourt

21/09/2011

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