Aqui o ano só começa depois do carnaval
E a festa da carne se esfrega
Entre a sexta feira santa,
o dia de reis e o recém nascido Natal.
Aqui as folhas caem no verão.
Outro outono póstumo.
A Avenida Presidente Vargas fica amarela e preta,
com essas mortas espalhadas,
esvoaçantes, conforme os carros
sobre passam seus corpos.
O sol volta a aparecer
Depois de dado por finado,
reluz um cado delas em cada lado
das vias.
A calmaria irritante do pós-feriado,
essa noite fria que foi ontem
atrasam a vinda do dia
em que a paz encontrará a sabedoria.
Nessa hora
teremos a horda dos espertos
que se dirão responsáveis
pela boa época;
Os verdadeiros responsáveis por ela
abrirão mão da réplica,
do reconhecimento,
por conta da felicidade do momento
e por sentir nele a resignação.
Será que fará diferença
aquela vez em que as folhas
caíram na hora errada?
Ou seremos como os felizes
e não nos lembraremos das metades,
incompatíveis, que foram deixadas?
Aqui as folhas se jogam
Suicidas post-mortem
como fossem mártires glorificadas
merecedoras do mármore,
das homenagens e das estátuas.
Se alguém me provar
Que nessa ordem eu sou a louca e não o luto,
a bruta e não a luta.
Assino cega
O atestado de maluco.
Me tacho de louca
calo meu susto e minha meta!
Carola Bitencourt
03/01/2012
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