22 de abr. de 2018


Sobre a viagem I

Muitas vezes me pego pensando em escrever sobre o que, e por onde, passei nessa viagem. A verdade é que esses caminhos continuam passando por mim, a cada sol despertado no abrir dos olhos, dia após dia. Tenho o completo convencimento de que não ficaram para trás os acontecimentos, trouxe todos comigo, assim como carreguei nos alforjes os bichos internos que havia criado e mantido nos meus anos de crescimento, trago agora à base de cigarros pensativos os saberes transformados nesse período de trajetos traçados e pedalados num esforço maior do que já havia me acostumado.

Quero transportar do alforje para o Word 68 dias de círculos dados pelo joelho, tornozelo, pernas, 68 dias de braço em tronco empurrando em diagonal uma magrela de 75 quilos ladeira acima, 68 dias de serotonina espalhada pelo corpo resultando num sorriso esplêndido com moldura líquida de suor descendo pelas bochechas. Me pergunto o tempo todo como catar a memória transbordante e pincela-la em palavras nessa tela eletrônica branca de maneira que se possa, lendo, recriar as cores vivas da vegetação rasteira, do azul 180 graus, do movimento livre e contínuo do vento nos coqueiros altos, do som da respiração ofegante e determinada dos meus pulmões cansados. Basta um fechar de pestanas pra sentir novamente a satisfação e leveza das gargalhadas que demos eu e Binha, basta uma inalação mais forte do ar pra tomar de novo todo prazer das relações novas com profundidade transparente criadas ao longo do caminho.

São tantas sensações afloradas enquanto escrevo essa meia página que imagino somente meditando conseguir repassa-las pro papel – virtual ou não.
Fato é que sinto a necessidade de faze-lo, por vontade de abrir essa vivência aleatoriamente e porque sem aparar o jorro dessa história provavelmente serei afogada pela felicidade pungente que ela representa.
Carola Bitencourt
22/04/2018


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