Passeando presente dela
pelas ruas de Sevilha
imaginou injetar-se
lembranças, como vacina.
para quando fosse dali
poder voltar a habitá-las,
uma e outras, e duplamente,
a mulher, ruas e praças
Assim foi entretecendo
entre ela e Sevilha
fios de memória, para te-las
no só e ambiguo tecido
...
Mas desconvivendo delas,
longe da vila e do corpo,
viu que a tela da lembrança
se foi puindo pouco a pouco
...
A lembrança foi perdendo
a trama exata tecida
até um sépia diluído
de fotografia antiga.
Mas o que perdeu de exato
da outra forma recupera:
que hoje qualquer coisa de uma
traz da outra sua atmosfera.
( João Cabral de Melo Neto
“O Profissional de Memória”)
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