Vejo gente que se preocupa com as cartas de natal que as crianças intoxicadas de falta de afeto e fartura deixam nos correios aos montes, como bancos de neve de um papai noel fantástico.
Além da incoerência de colocar um velhinho branco, barbudo, barrigudo, que veste roupas de frio num calor de 40°, como representante de uma esperança obsoleta de que um objeto numa data específica pode trazer algum alento aos famintos de carinho, ainda me pergunto se ninguém percebe a inconsistência de colocar nessa atitude (comprar presente de caridade) sua prova de amor ao próximo.
Certamente, há de haver um susto quando me digo indignada com essa falsa sensação de saciedade a que se dá o prazer o ajudante do natal dos pobres.
Além de contribuir pra maior fonte de desigualdade social do mundo (o capitalismo), ainda há a ideia de que ao entregar o comprado, o resultado será um belo sorriso, e um rostinho mais feliz pra esses desprovidos: por algumas horas, ou até que o brinquedo se quebre.
Meu rostinho fica bem sisudo.
Percebo o quanto estamos engodados nessa trama fatal do espírito natalino, do ato filantropo, da ajuda superficial, em prol de um minuto de alegria.
Que tal, se ao invés de ler cartas anonimas, nos déssemos ao trabalho de ler numa escola, ou num centro comunitário, ou na casa da mãe joana com dez filhos, a importância de votar, pensar e usar camisinha? Tenho certeza que no natal que vem, não viriam pedir a superficialidade de um pedaço de plástico...
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