7 de abr. de 2020

não vou mais fazer as contas
de quantos tabacos manufaturei
não contarei a honra de dizer
como contrabandeei
a bandeira que hoje hasteio
nem contabilizarei
receita vista e feita
nem mesmo live em streaming
controversa das coversas

Farei sonhos acordados
concordarei con mis amigos
se pensamentos não retardados

Além do violão
esses dedos não serão
alongados

Dito isso me desfaço da culpa
vou dormir com a cuca
de quem fugiu da arapuca
na conchinha com a Caipora.

E boa noite!

Carola Bitencourt
07/04/2020

3 de abr. de 2020

Qual parte de mim
tenho que matar pra te manter?
Que surpresa desagradável
aparece nesse convívio?
Que prece abominável
devo dizer pra ser aceita?
De certo nenhuma das que sei
de cor só o coração
palpitando verdades
que não podem ser ditas
ou são expressões não direitas
Ser direta é minha melhor característica
não sumo com ódio contido
nem arisca faço educação à risca.
Outrem é ontem
na tabela do meu calendário
uso arara só pra não ter
possibilidade de armário
e essa voa em rasantes largos
Ser você é o que importa
portanto não suprima
todos os meus outros lados
Mais que a necessidade
de estar junto
me vem a liberdade de ser inteira
Antes mesmo de buscar assunto
já fiz meu verso
"e tinha justiça
nesse escarrar"
Quero unir
mas pra dividir
tem que somar!

Carola Bitencourt
03/04/2020

31 de mar. de 2020

Já tô no 20° dia de quarentena (sim, comecei no dia 11/03). Por sorte ou folga do universo, afinal 2018 e 2019 foram anos largos em desafios pra mim (vou nem contar os anteriores...), no mesmo período em que começou o crack da pandemia tipo boi tolo que a gente sabe quando começa, mas não enxerga o final e vai até quando a gente já tá sem folego, numa mistura de desespero com êxtase, quer ir embora mas sabe que é melhor ficar, rolaram uns trampos que tão ocupando minha cabeça um pouco mais do que antes do enclausuramento. É gratidão que fala? GRATILUZ, Namastreta, owmmmm

Ufa, né?!
Marromeni!

Enquanto a timeline geral das redes e jornais parecem mais um sambaqui corroído pelas sandices do low hitler e seus cegos seguidores, não tem cabeça feita que não se afobe.

Nada é pra já, mas a capacidade cognitiva desses sujeitos deveria ser interditada pra ontem.

Tá bem, por mais desperdício de sangue que sejam não precisa fuzilar, tira só a capacidade de comunicação que já dá uma aliviada.

Também não to falando de censura porque se eles não tivessem capacidade cognitiva não ia dar pra escrever, falar, juntar o lé com cré malicio-fantasioso com que se munem, muito menos usar um mouse pra editar vídeo nem salvar a senha do login do youtube ou o número de whatsapp daquele seu família que cai na arapuca, com caráter ou sem. Tava resolvido.

Pois bem, depois de um banho de espuma no servidor das redes, passado o alcumgél no histórico do browser já dava pra começar a pensar no desfecho da carentena ou, melhor dizendo, a abertura das liberdades.

Drauzio que me perdoe, mas minha filha, abraçar não vai ser suficiente, não. Vai ter que rolar uns apertos no coração, umas mãozadas no íntimo da alma porque se em 20 dias a gente já tá beijando a tela do zoom pra dar 'tchau paz amiga', imagina 60 ou 90? Quando acabar vai ser só saravada de axé no lombo das parcerias. Galera vai tá que nem camponês cumprimentando até gente estranha (nada mal)! Mas, mentaliza essa cena, passando na frente do boteco aquele macho sem banho vindo te dar um abraço e você aceitando?! Arremaria

Ainda tô no 20° dia, daqui não sai disco de ouro tipo diário, não. Mas, uns passatempos, tipo esse texto aí, de repente...

Carola Bitencourt
31/03/dois mil e vertigem

21 de mar. de 2020

São as conversas
o sem fim de declarações e piadas
são as risadas não forçadas
as tantas vezes que nossos olhos se encontram
sem esforço
É o caminho macio
traçado até sua alma
onde vejo toda profundidade cristalina
em que mergulho sem nenhum receio
É o todo de você
que me contempla eternidade
A completude que carrego
compartilhada enfim.

É a certeza de lidar com quem não joga
nem julga
a satisfação de ser genuína
despreocupada com postura
ou tentativa de agradar
e por isso ser admirada
É um tanto a mais
na felicidade arada em terra árdua
é a facilidade com que nos tornamos
uníssono.

É todo o calor e suor transbordado
acompanhado de cumplicidade e afago
refrescado pela maturidade
de se doar sem se transformar em vazio
é o encaixe que não machuca
as medidas compatíveis como encomendadas.

A voz e o dizer
que combinam com o tímpano mutuamente
Parece inacreditável
Nunca foi tão real!

Carola Bitencourt
21/03/2020
S.Cocoa.G

6 de jan. de 2020

19-20

Começar o ano fazendo um diário de bordo do que potencialmente foi meu melhor feriado de ano novo de todos os tempos é um privilégio, sim! Então lá vai:
Primeiro a gente faz um esforço muscular incomum pra chegar num paraíso porque paraísos são lugares distantes mesmo e por mais que as companhias sejam razão de um momento mágico a paisagem ajuda num grau muito grande a fazer desses momentos algo muito especial.

Na chegada, já cansada, rola um descanso merecido com um sereno refrescante e na manhã seguinte, com a luz do dia, te vem a certeza de que a escolha e o esforço foram acertados. 

O azul de fundo, esverdeado pela mata, a brisa salgada e o afago do vozerio de água tão próxima te fazem respirar mais suave. 

Se inicia o processo de se desligar das tecnologias eletrônicas e se conectar com as essenciais pulsões de vida, dessas que a gente no furacão do cotidiano acaba se esquecendo.

Os sons que chegam são do trânsito comunicativo dos voadores, o coaxar dos anfíbios, o passear do vento criando o cochicho das folhas nas árvores mais altas.

Prepara-se um café, sem a maior parte dos itens de praticidade usados em casa e mesmo isso já te evolui um bocado o valor de tantos confortos que a gente tem e nem se dá conta. 

Depois vem o maior dilema: Ir pra praia ou pra cachoeira. 

Nossa, que trabalhão decidir. 

Ambos à uma pequena caminhada de distância, não precisa de carro, nem de regra de trânsito.

Na trilha não é preciso ligar seta, os movimentos e momentos de parar são instintivos e realizados sem mais que um bom dia entre desconhecidos na estreita mão dupla. 

Pouca regra, o respeito mútuo basta.

Nas caudalosas do rio, aquela água medicinal que revigora sua andança desde a saída de casa. 

Hidromassagem natural terapêutica pra te encher de energia, uma pedra grande pra jogar o corpo e o calor do sol amaciando sua carcaça já sintonizada com a mãe natureza e o sentido de pertencimento que tanto nos falta. 

Ser parte e reconhecer seu tamanho diante da queda d’água com mais de 30 metros é a aula.

Os corpos vão se despindo das leis de padrão, quebrados um a um nas atitudes mais humanas possíveis. 

Não há julgamento de medida, nem de peso, o que vale mesmo é o tamanho dos sorrisos e o poder de cura dos abraços.

Atravessa mais um caminho e cai direto no mar. 

Uma extensão de areia que te parece fugir do alcance horizontal. Água cristalina com temperatura carinhosa, o astro rei raiando e seu mergulho te transporta pra outra dimensão com a gravidade quase suspensa dando leveza ao seu conjunto de pele, osso e sangue. 

Seu cérebro já trata os assuntos como sendo possibilidades de acerto e não de preocupação com a falha.

Vamos fazer uma comida porque ainda não nos alimentamos só de luz. 

Separa os legumes, o carboidrato, uma mistura, acende o fogareiro ou realimenta o fogão a lenha.
- Esqueci o sal...
- Eu tenho aqui! 

Não precisa pedir, compartilhar é o verbo não dito inerente. 

Enquanto isso, no tempo de cozimento as três perguntas básicas:

vc é de onde, chegou que dia, fica até quando?

Seguida pelo famoso “meu endereço é: atravessando a ponte de 2 tocos, virando à esquerda, última barraca verde ao lado da lona azul…” E “nos encontramos então mais tarde no arrumadinho”. 

É, durante essas conversas vc descobre que o saxofonista onipresente dos blocos do Rio (sim, esse mesmo que vc pensou) organizou um som com mais sabe-se lá quantos músicos de talento inquestionável e depois do almo-janta e de uma ducha perfumada ainda tem uma baguncinha pra curtidor nenhum botar defeito.

Desce a trilha até a praia – a dica é ir sem a lanterna, parar no início do caminho e esperar alguém que a tenha pra pegar uma carona. Acredite, vc vai conhecer pessoas incríveis com essa tática – chega no último châteou  caiçara da praia sob um feixe maciço de estrelas, sobre uma areia massageadora de plantas do pé.

Eis que encontra uma orquestra formada no acaso com a sintonia de uma família.

Nem partitura nem ensaio, tudo tocado no mais perfeito tempo baseado na leitura corporal e na troca de olhares. 

O som é de todos, não precisa de maestro, tem vozes que te apaixonam na primeira palavra cantada e o coro é feito pelo corpo de baile de quem assiste. 
Pode dançar, cantar, rodopiar como vc quiser, não vai encontrar nenhuma olhada torta, a não ser aquela de canto de olho te chamando pra ir na água dar uma voltinha. 

Entre uma ida no balcão e outra os encantos e reencontros acontecem. 

A comunidade de mulheres imponderadas que transcendem e ressignificam certezas de mudança, tão necessárias pra uma convivência de evolução entre as almas, que fortaleceram a espiritualidade que tenho desenvolvido desde o último ano é um capítulo à parte. Vou precisar de outra página e de muito mais tempo pra digerir tão grande foi o absoluto absorvido.

Posso te contar que esse ano novo foi de fato o dos encontros.

Quanta gente eu conheci que quero levar pra vida, quanta gente eu revi e que tiveram sua presença transformada para conexões de proximidade. 

A troca com essas novas e renovadas conexões interpessoais vão desde profundas reflexões psicanalíticas à novas ideias de projetos profissionais, de simples dicas de como manter uma fogueira acesa à complexidade no trato dos relacionamentos. 

De todo modo são sempre enriquecedoras e audazes. 

Nesse meio tempo, entre uma gira e outra se vc perder o chinelo ou a carteira a probabilidade de achar novamente é 99%. 

Perdi as contas de quantas coisas achei e devolvi e de quantas pessoas perderam algo e as acharam, por vezes no mesmo lugar em que deixaram, ou guardadas no primeiro “quiosque”.

A partir disso tudo sua concepção de mundo passa a ser alterada, sua retrospectiva e lista de metas pra 2 mil e vim te ver são reconfiguradas com valores diferentes das que faria se estivesse ainda no mesmo lugar, no antes. 

Salvas as necessidades e batalhas que estamos fadados a atravessar, sua capacidade mental de olhar pro mundo e pro outro com mais empatia e generosidade são multiplicadas.

Pessoalmente posso afirmar que minha satisfação vem através da certeza de que não me obriguei a nada que não fosse do meu gosto, que todos os dias foram repletos de alcance do que objetivei, e que mesmo tendo tido a chance de fazer algo diferente não houve um só arrependimento, no máximo um destaque para o que ainda preciso aprender. 

Além do meu reconhecimento interno e pessoal, ouvir que “minha viagem melhorou depois que vc chegou” e tantos outros reconhecimentos externos desses mesmos seres mutuamente unidos me trouxe mais força pra seguir sendo como sou, pra continuar devolvendo o bem que recebo e pra transformar tudo aquilo que vejo digno de aprimoramento.

Vou levar um tempo ainda pra entender o todo dessa viagem, talvez esqueça de mencionar um ou outro nessa lista feita também pra me lembrar desses momentos e afetos quando as batalhas forem difíceis, mas principalmente pra que esse recado chegue pra quem fez parte, afinal, na emoção dos acontecimentos nem todos os contatos foram trocados e minha memória falha apaga nomes como um vento espalhando nuvens.

Meu mais sincero amor aos envolvidos:
Tai Rodrigues, Mari Hughet, Andreia
Manu, Alice, Sofia, Ingridi, La e o namorado, Gabi, Ari, e cia
Otto, Igor
Victor Valério, Lucão e as manas
Jamile, Fernanda e Fabiana
Omar e João
Luana, Dropê, Vini, Enrico
Bicinos: João, Guilherme, o casal, o moço da rede
Sabrina, Ray e cia
Joana, Vini, Felipinho

Seu Altamiro, Alef, Alcino

Carola Bitencourt
06/01/2020

26 de out. de 2019

Vc só quer chegar em paz no trabalho
o motorista, além do atraso,
não tem 5 centavos
Faz cara de bravo
e freia como se fosse burro de carga
carregando peso inanimado
ao invés de gente
com quem ele deveria ter cuidado

Chega depois do horário
seu chefe não quer desculpa
repassa a pressão
que ele mesmo tem aguentado
de uma pressa pra outra
são tantos dobrados cortados
que até a hora de ir embora
tudo que vc pensa é
como seria bom não ter acordado,
mas acordou
outro dia, outra batalha
do ônibus sai uma sardinha
enlatada, aos pedaços,
do emprego sai mais um com preguiça
de pensar ou de denunciar o desgraçado
Pensa no saco que é ligar pra SAC
qualquer que seja vai te levar num labirinto de repetições e "não entendi"s
que no final vc mesmo quer ser o cancelado
e mesmo se for a diante
sua delação vai ser outra
na pilha de casos negligenciados

Chega cansado e liga a TV
ou qualquer streaming que te deixe hipnotizado
daquele monte de balbuciados
vc reconhece a notícia:
mais um ere baleado,
corta pro futebol,
vida que importa mesmo é do artilheiro já rico,
quem se importa com favelado?
Outro escândalo, outra novela,
a maior parte delas é real,
mas sempre botam um efeito
de conto de fadas
retratam barraco com abajur
de cor temperada,
tudo iluminado,
não tem o cheiro, o gosto de ódio
que vem de cima
dropando do helicóptero
o raio letal rajado,
esse barulho só combina
com palco de festival playboyzado
Passa roupa
em 2019 ninguém pode ficar amassado
cozinha, limpa e fica de boa
quando chegar mais tarde
a hora de dar pro pegueteque não quer se assumir namorado.
2 semanas atrás te prometeu um jantar
até agora só papo furado
Vc nunca pediu nada
mas continua ganhando promessa vazia
E ai de vc se pegar pesado
te chamam de grossa, carrancuda e fria.
Mulher tem que ser charmosa, gostosa e bonita,
o resto é feminista frígida!
que não gosta de homem e não sente empatia
"cuidado pra não ficar pra titia
35 anos e sem filhos??
quem vai cuidar da sua aposentadoria?"

Até pra deitar o corpo tá demorado
a chuveirada vem tipo tailandês
pra ver se relaxa o músculo estafado,
quem sabe no pagamento que vem
dá pra instalar um chuveirinho no banheiro
Ia ser bom pra levantar os ânimos,
por agora já se contenta com o travesseiro
pra nivelar o esqueleto usado.

A cabeça refaz as contas do mês,
a falta de pai
e o quanto quer fazer mais
por si e pros outros,
mas por enquanto não dá pra incluir outra atividade
entre o aluguel, a comida
e a contínua busca por oportunidade.
Bate um sono pesado
dá pra dormir umas 6 horas essa noite
aproveita pra recompor as energias
amanhã é tudo de novo
tem que (con)seguir levantar no horário,
refazer a rotina sorrindo
e rezar pra chegar em paz no trabalho.

23/10/2019
Carola Bitencourt

13 de set. de 2019


É concha, asè e aconchego
preto, prioridade e respeito
partido ao meio se multiplica em 2
nesse calor transpira a sorte
de achar a chave
e trancar a seta
caminho aberto no escuro da noite
espreitando reciprocidade
na calçada da vida
é bom e bastante
é mais o querer 
que a agenda pode permitir
emanar do âmago 
a vontade sentida
é sair da roda
pra dançar contigo
é desejo atendido
e um monte de amanhã


Carola Bitencourt
13/09/20019
D.F.