27 de dez. de 2018

Relampeando vi sua forma
Quase um raio cobre
abrindo sorriso em mim
O cheiro de chuva vindo
Dava visão de cheia
caminhos que a água abre
na terra
Aqui vai cair torrente
carregada
feito o tanto que guardei de nós
na memória falha
que agora revivo aos raios
no céu da lembrança
Risadas cravadas em tarde
de calor
Me alcança um bando de vontade
corre aqui dentro um desejo gotejado
rever, refazer, renovar
recriar o ar desses últimos alardes
Até a poesia tá branda
tamanha a leveza que trouxe
depois de tanto arfar no ouvido
satisfeita de toda delícia
que veio comigo
Carola Bitencourt
23/12/2018
M.F.

2 de nov. de 2018

É que eu vou até o limite
da calma, da querência
da vontade de te ver
Até não ter
mais nada que, em você,
me faça bem
Porque
assim provo pra mim
que a decisão de
vacilar
não foi minha
foi nossa.
Sua quando a despedida veio
minha quando te escolhi
no meio
de tanta gente
de tanto sorriso melhor
que o seu
Tanto abraço mais abrangente

É impressionante
o quanto a gente fica carente
em épocas de fascismo
Parece até que
acontece só num país vizinho
até acontecer aqui
nesse coraçãozinho de pele fraca
e músculo forte

Como foi bom te ver ontem
Espero que não aconteça nunca mais!

Carola Bitencourt
02/11/2018
B.C.

24 de set. de 2018

era um tanto de coisa garrada na fala infinda e prolixa um tanto de dentro que quase não aparecia a olho no outro lado tinha um certo que não flexionava relativo uma aura branda de abraço carinhoso e muita aversão a visão de dois como já visto vagava difuso fugindo do querer

por aqui era só ânsia de assistir da perspectiva interna o natural do trato trabalho batalhado a braçada e fogo alto afogando a calma mais histeria que risada ou quase nada maturado e rude o quanto tenta de afago receber sem sucesso frustrada no trato subentendido

foi no fim falta de abrir
foi sôfrego e afoito
feito fuligem afiada
solta no sopro da sorte
ficou um tanto de gosto desperdiçado
um monte de amor
não dito

Carola Bitencourt
24/09/2018
V.B.C.

21 de jun. de 2018

Poematizando

Apago posts
monto peças fatais
traço passos

Faço portos
possuo partes
pousos fortes

Peço afagos
afogo o fogo
gafe fugaz

Agarro loucos destruídos
não preparados
distribuo bons brados

Lucro com isso
o simples descaso
rabiscando poesia
posa o resultado

em prosa
papo ridículo
ou roça de cacos

Sinto, não nego
poAmE enquanto puder!

Carola Bitencourt
21/06/2018

20 de jun. de 2018

16 toneladas de palavra
engarrafadas no sentido
  sentimento x expressão
um tanto de troço entalado
no trânsito da garganta
esperando a fluidez mental
dissipar instantaneamente essa saída
  papuda de gritos agarrados

passa das sete e o rush é certo
desde o despertar
  esparramando porradas internas

passa feito flecha me cortando
pela direita a sensatez
cruzando sinais
desviando da vontade desvairada
de falar aos berros:
passa por clima!
daqui só saio quando
a escrita estiver correta!

Carola Bitencourt
20/06/2018
V.B.C.

19 de jun. de 2018

Sonetinho bonitinho dismétrico do ansioso

Já escrevi sobre você
já esqueci de deixar pra lá
já fiz contatos, contas e até
memória do que ainda será

Já nos conhecemos,
nos apaixonamos, vivemos felizes,
brigamos e fizemos as pazes

Você é o único
que ainda não sabe
e por isso não te perdoo

Certamente esse será o motivo
da nossa separação
É uma pena que tudo tenha sido só um ensaio
dentro da infinita capacidade
da minha imaginação.

Carola Bitencourt
19/06/2018
D.H.

29 de abr. de 2018


Sobre a viagem II

Hoje saindo na varanda senti o ar pela primeira vez mais frio que o do quarto. A amplidão do terreno ao lado, vazio de construções e cheio de um mato inidentificável, nessa quantidade grande de metros, lembraram a sensação do sereno caindo na pele em algumas noites durante esses 68 dias. Naquele momento não havia ar frio, só uma brisa cortando as bochechas como sopro de respiração de mãe amamentando. O mundo, esse gigante redondo onde colamos por gravidade, dava seu tom de berço. Era possível, abrindo os braços com o queixo apontando o alto, perceber a atmosfera ao redor, de olhos fechados.
Claro, a vibração de se compreender parte de um todo saía pelos poros graças ao tipo de vivência que era experimentada. Nenhum elo com compromisso de proletariado, a única marcação de ponto era a que tachava o estômago e o instinto auto protetor: quando comer, onde dormir... As necessidades eram de fato básicas e a vontade de estar ali, realizando essa empreitada sanava qualquer desejo secundário. De repente o desejo de encontrar o look da night de sábado foi substituído por longas linhas emaranhadas de estrelas brilhantes, vez em quase sempre uma cadente, a fome por um novo romance substituída por um escalda pés de água morna, salgada e massagista, trazida e levada nas espumas frescas. Toda vontade fútil, funcional ou não, era arrebatada por uma sensação de completude, um sentido oposto ao que nos regam as telas eletrônicas ou qualquer dispositivo com objetivo marqueteiro.
Essas noites em que o ouvido estava chafurdado nos sons do atlântico eram as mais recompensadoras. Geralmente vinham depois de uma batalha travada no equilíbrio das rodas sustentando o peso dos itens exagerados carregados e o do meu corpo que já dava sinais de alguma diferença, embora não fosse religiosa ortodoxa, muito mais para o paradoxal estava, a frequência do exercício e brindavam um quê de troféu sem competição excludente. Quando se alcançava o destino, tendo ele sido pré-estabelecido ou pós, chegava a recompensa: uma areia livre de humanos barulhentos, um reflexo prata no líquido bravio imenso e essa brisa de mãe Terra cortando os músculos labutados. Hoje saindo na varanda também lembrei da saudade que senti naquelas noites desse ar frio aqui de fora. Todo o mundo é diferente do quarto.

Carola Bitencourt
29/04/2018

22 de abr. de 2018


Sobre a viagem I

Muitas vezes me pego pensando em escrever sobre o que, e por onde, passei nessa viagem. A verdade é que esses caminhos continuam passando por mim, a cada sol despertado no abrir dos olhos, dia após dia. Tenho o completo convencimento de que não ficaram para trás os acontecimentos, trouxe todos comigo, assim como carreguei nos alforjes os bichos internos que havia criado e mantido nos meus anos de crescimento, trago agora à base de cigarros pensativos os saberes transformados nesse período de trajetos traçados e pedalados num esforço maior do que já havia me acostumado.

Quero transportar do alforje para o Word 68 dias de círculos dados pelo joelho, tornozelo, pernas, 68 dias de braço em tronco empurrando em diagonal uma magrela de 75 quilos ladeira acima, 68 dias de serotonina espalhada pelo corpo resultando num sorriso esplêndido com moldura líquida de suor descendo pelas bochechas. Me pergunto o tempo todo como catar a memória transbordante e pincela-la em palavras nessa tela eletrônica branca de maneira que se possa, lendo, recriar as cores vivas da vegetação rasteira, do azul 180 graus, do movimento livre e contínuo do vento nos coqueiros altos, do som da respiração ofegante e determinada dos meus pulmões cansados. Basta um fechar de pestanas pra sentir novamente a satisfação e leveza das gargalhadas que demos eu e Binha, basta uma inalação mais forte do ar pra tomar de novo todo prazer das relações novas com profundidade transparente criadas ao longo do caminho.

São tantas sensações afloradas enquanto escrevo essa meia página que imagino somente meditando conseguir repassa-las pro papel – virtual ou não.
Fato é que sinto a necessidade de faze-lo, por vontade de abrir essa vivência aleatoriamente e porque sem aparar o jorro dessa história provavelmente serei afogada pela felicidade pungente que ela representa.
Carola Bitencourt
22/04/2018