26 de out. de 2019

Vc só quer chegar em paz no trabalho
o motorista, além do atraso,
não tem 5 centavos
Faz cara de bravo
e freia como se fosse burro de carga
carregando peso inanimado
ao invés de gente
com quem ele deveria ter cuidado

Chega depois do horário
seu chefe não quer desculpa
repassa a pressão
que ele mesmo tem aguentado
de uma pressa pra outra
são tantos dobrados cortados
que até a hora de ir embora
tudo que vc pensa é
como seria bom não ter acordado,
mas acordou
outro dia, outra batalha
do ônibus sai uma sardinha
enlatada, aos pedaços,
do emprego sai mais um com preguiça
de pensar ou de denunciar o desgraçado
Pensa no saco que é ligar pra SAC
qualquer que seja vai te levar num labirinto de repetições e "não entendi"s
que no final vc mesmo quer ser o cancelado
e mesmo se for a diante
sua delação vai ser outra
na pilha de casos negligenciados

Chega cansado e liga a TV
ou qualquer streaming que te deixe hipnotizado
daquele monte de balbuciados
vc reconhece a notícia:
mais um ere baleado,
corta pro futebol,
vida que importa mesmo é do artilheiro já rico,
quem se importa com favelado?
Outro escândalo, outra novela,
a maior parte delas é real,
mas sempre botam um efeito
de conto de fadas
retratam barraco com abajur
de cor temperada,
tudo iluminado,
não tem o cheiro, o gosto de ódio
que vem de cima
dropando do helicóptero
o raio letal rajado,
esse barulho só combina
com palco de festival playboyzado
Passa roupa
em 2019 ninguém pode ficar amassado
cozinha, limpa e fica de boa
quando chegar mais tarde
a hora de dar pro pegueteque não quer se assumir namorado.
2 semanas atrás te prometeu um jantar
até agora só papo furado
Vc nunca pediu nada
mas continua ganhando promessa vazia
E ai de vc se pegar pesado
te chamam de grossa, carrancuda e fria.
Mulher tem que ser charmosa, gostosa e bonita,
o resto é feminista frígida!
que não gosta de homem e não sente empatia
"cuidado pra não ficar pra titia
35 anos e sem filhos??
quem vai cuidar da sua aposentadoria?"

Até pra deitar o corpo tá demorado
a chuveirada vem tipo tailandês
pra ver se relaxa o músculo estafado,
quem sabe no pagamento que vem
dá pra instalar um chuveirinho no banheiro
Ia ser bom pra levantar os ânimos,
por agora já se contenta com o travesseiro
pra nivelar o esqueleto usado.

A cabeça refaz as contas do mês,
a falta de pai
e o quanto quer fazer mais
por si e pros outros,
mas por enquanto não dá pra incluir outra atividade
entre o aluguel, a comida
e a contínua busca por oportunidade.
Bate um sono pesado
dá pra dormir umas 6 horas essa noite
aproveita pra recompor as energias
amanhã é tudo de novo
tem que (con)seguir levantar no horário,
refazer a rotina sorrindo
e rezar pra chegar em paz no trabalho.

23/10/2019
Carola Bitencourt

13 de set. de 2019


É concha, asè e aconchego
preto, prioridade e respeito
partido ao meio se multiplica em 2
nesse calor transpira a sorte
de achar a chave
e trancar a seta
caminho aberto no escuro da noite
espreitando reciprocidade
na calçada da vida
é bom e bastante
é mais o querer 
que a agenda pode permitir
emanar do âmago 
a vontade sentida
é sair da roda
pra dançar contigo
é desejo atendido
e um monte de amanhã


Carola Bitencourt
13/09/20019
D.F.

10 de set. de 2019


Quero
comer uma delícia
mastigar gemendo
engolir com gosto
assistir um filme bom
acariciando cabelos
com um edredom quentinho
tomar porre no sofá
fazer partida
de safadeza e carinho
revirar os olhos
alagar a cama
gargalhar de gozo
derramar o soro
das pupilas entumecidas
pela beleza da noite
e o sopro arfante morno
feito abafado grito afoito

No fim
baforar fumaça leve
recostada na satisfação
de arreganhar-me
à solitude de ser inteira

agarrar-me ao auto-além
com mais um
ou sem

Carola Bitencourt
10/09/2019

19 de jun. de 2019


Pré feriado
estado de paralisia
ansiedade analista de próximo dia
Preparação aguarda decisão alheia
tem que ter coração forte
pra esperar do outro a resposta
resolução da estrofe
Torpe por sorte tanto quanto necessidade
aguardar o que te guarda o destino
atrair em pensamento o que já é teu
traçar planejamento pra várias hipóteses
brio hipnótico do desejo latente

Vontade aberta na oportunidade
às vezes você nem sabe que quer
até que te bata à porta
até que se mostre a possibilidade
futuro oriundo de esforço passado

Respira fundo
Reza pra deusa
Acaricia a paciência ausente
Segura a pressa
De olho na presa!

Carola Bitencourt
19/06/2019

14 de mai. de 2019

A month will pass
desire won't last
unless I unleash
the void that's in me
A year will turn
and you'll still be here

I know it's not heart
the one to be heard
But it is only too hard
to silence when it hurts

I need some poison
to multiply my strength
even if just for a moment
now the missing feeling
falls like rain

There's light outside
I should find it comforting
instead I'm lying
over all your remains

For now on it's a peaceful breeze
that'll keep me far away
I hope it's enough to forget you
and forgive myself
for leaving so late

Carola Bitencourt
14/05/2019
M.C.

4 de abr. de 2019


Sempre vejo a nata. Tipo uma coalhada que se separa do resto de leite, que se difere daquele soro aguado que sobra depois que a nata se forma. Essa nata tá inteira, concisa e apegada. Se mantém distante do soro, da cuia que a contem, detida da força de ser nata, de escolher com o que se mistura: outra nata somente.

Ela é apreciada por um tanto de gente, pagando bem, que mal tem?

Não à toa é curadoria, ops, curada. Cuidado pra não errar o nome, essa nata se desmancha facilmente se não for tratada delicadamente, se sentir que está sob qualquer análise se desfaz num tempo recorde e sai desvairada escorrendo pelos seus dedos.

Nata curada não perdoa, se tu não está na mesma consistência, nada adianta ter consciência, a nata te mata.

Se teu trabalho não for branco neve n° two one two não tem chance.

Se te dobras aos gracejos, tá dentro do empolamento desejado e sua alvura pode ser incluída.

Vai cuidando de ter bastante saliva, tua arte vai ser julgada pela lábia e lambida centimetral que tu der nas bolas claras e lisas, nos sentimentos apalpados no ego da cura. Daria um balde de vaca pra entrar no páreo? Então pode seguir seu sonho de ser artista reconhecido.

Mas, lembre-se: a nata só aceita se vc participar do jantar com discurso astronáutico, originalidade só se vier com bibliografia estilo escala pantone, pensamentos humanitários que não toquem no capitalismo e tem que ser progressista, porque a nata é muito altruísta, afinal pra uma precisa apropriação cultural é necessário ser bem vindo ao círculo em que o material/pessoal de estudo está.

Vão te dizer que o mundo tá muito careta se tu faltar, mas no primeiro respingo fora do penico, se tu não lambeu o suficiente o chão, aí, se prepara. Vem de colher larga seu catapultamento ao esquecimento.

Se tu decidir que não tá afim de ser nata, dá uma pesquisada nas alternativas marginais (nesse termo também deram uma gourmetizada, mas quem é marginal sabe que não tem passada de pano de 1000 fios egípcio que cubra o rasgo real da perifa).

Ainda tem um monte de safras vegetais ou derivadas de sangue que nos salvam e continuarão a salvar o que chamamos de arte.

Há esperança, mesmo que a nata ainda não tenha coalhado e apodrecido, continuamos a tirar leite de pedra na labuta de mudar os rumos e a forma como o mundo é feito. Escolha seu veneno.


Carola Bitencourt
04/04/19

26 de mar. de 2019


No meu café pós-almoço
Tem teu gosto amargo
Tem o pouco afago
Carícia que tu me oferece
como esmola de gente mole
pra tapar a inércia de atitude
Tem também a gana
de manter distância e saúde
mental
tal qual minha força de onça
no instinto de proteger
a própria pulsão interna
aquela resposta à duvida
de te chamar pra ser feliz
ou te mandar
pra puta que o pariu
você e todo seu charminho de “to nem aí”
seu descaso com o sucesso
das ex-fomeadas que já te quiseram
vá às forras com tuas gigs
espero que preencham teu vazio
teu lugar egocêntrico
de largar à deriva quem te quis
O fato é que to farta
De tratar como trufa
Quem de fungo não passa
Eu passarinho

Carola Bitencourt
26/03/19
M.F.

23 de mar. de 2019


Tenho várias perguntas pra te fazer
maior parte delas se refere a besteiras
às quais vc adoraria responder
Alguns convites congelados
muitas sugestões em segredo
um monte de horas de risada rasgadas
na possibilidade de acontecer
orgasmos orgânicos
assim espero e suspiro
e umas conchas aconchegantes
assistir uns seriados em streaming
chacoalhar num show em noite de chuva
debate político polido
pipoca, tabaco, Heineken e pensamento crítico
olho no olho, gozo, certeza
abraço sincrônico
companhia por querer
e mais uma porção de participação recíproca
Tudo isso tá guardado
Pra quando a gente se conhecer

Carola Bitencourt
23/03/2019

21 de mar. de 2019


Banalização da absolvição alienada
em busca de redenção
empresta o misto de alcance
com emaranhados relances de impulso
o absurdo a que se prostra
abriga conflitos póstumos
postulados em burocracia hipócrita
crítico crivo altivo de voz
vazia de contento
texto contado por fonema brando
quando o quanto tanto faz
há de vir o algoz regurgitado
bradar vitória usurpada
falácia cheia de sim
a mesma mesa posta
de pratos podres
sobre a toalha de mordaça
com os quais supre
primeiro a famigerada saliva
depois a salva de palmas fracas
francos somente em nomes
listados pra livrar a própria cara
é um chão de vermes infértil
terreno largo sem fronteira
vergonhosa e mal amada
essa Boçal política brasileira

Carola Bitencourt
21/03/2019

20 de mar. de 2019

Respirei teu cheiro
era doce e um tanto áspero
me tomou um torpor pré-apocalíptico

Pairei um tempo
na esperança que se dissolvesse
entre os ventos
ao redor das narinas

Instigada com tamanho brio
me abriguei na tua pele
um gosto de breu me invadiu a boca

Se tornou um vício
desses que incentivam o ócio
dócil como caçador
ao espreitar a presa

Abri até os poros
além dos membros
os olhos já não enxergavam

Fiquei

Absorvida sorteei meu norte
passei a voar à deriva

Perdida na possibilidade de perda
dancei com as Valquírias
antes da oferenda
Me rendi a um sopro de encanto
a sobra era minha sobremesa

Deixei embriagado o omisso destino,
já que esse não fez diferença
Nessa terra em que sou rainha encarcerada
pela minha própria correnteza
só eu posso aspirar
o domínio dos acontecimentos.

Banquei a babaquice de ser forte
como se fosse uma guardiã manca
Mandei matar todas as vozes
que me diziam pra sair
Era eu quem decidia
o dia de falar com a morte


Esse também é pra você
mesmo que não tenha o seu nome

Carola Bitencourt
20/03/2019

14 de fev. de 2019


Se eu passar pelo seu bairro toda a espuletisse que tenha no dia se dissipa. Nem a conjugação dos verbos se vertem em verso, fica tudo solto, disléxico, frouxo... O simples lampejo de possibilidade de te ver me desestabiliza por completo, pareço um peão rodado há séculos, quase deitando, mas ainda em movimento, circular e cambaleante. 

Eu sei, foi pouco tempo, mas na minha criatividade foram tantas as realidades que ficção científica de viagem no tempo perde material de trabalho.

Meu celular toca, e sabendo que não é você nem me interesso por atender, só dou a mão à torcer porque ainda tenho uma vida pra resolver. Pronto. Outra reunião, mais um compromisso e a espera de que o tempo cure a ferida que não cutuco, mas relembro sempre.


Música nova no ouvido, outra mensagem do projeto novo, mais um percurso de ônibus e lá vou eu pra longe. Porque uma coisa é certa: por mais perfeito que fosse, nem mesmo a mais bela projeção pode me dar a ilusão de que você me queria, e posso ser flexível pra habitar lugares inóspitos, mas jamais ficarei onde o convite não é feito.

Carola Bitencourt
14/02/2019
M.F.

4 de fev. de 2019

Torrente recorrente
escorre torta
trotando tentativa altiva
de ser forte
e consegue
guia gente
num norte à deriva
da sorte catada
feito foice de sombra
silhueta rubra de vida
gotejada
Frente a falta
façamos mais matrizes
mais raízes do zero
multiplique-se em fonemas
abra mais poemas amados
a mando da não caretice
tracemos armados aramados
emaranhados na manha
de manter arte brotada
nesse mundo cinza
Grite-se, se te agrada
Agarre-se ao traço
Brade a bandeira que te defende
Ofereça o abraço
e receba o afago
Arranque-se, queira ser
destaque distintamente
a voz que expressa você!

Seja torrente
força bruta de água
somada a força da gravidade
e foda-se se a algum não agrade.

Carola Bitencourt
04/02/2019
Assim como no início
chove também agora
no início do fim
Vem pra lavar
o vórtice descendente
uma lavada que acaricia
minha carcaça
que afaga meu tino
de sair em disparada
sem olhar pra trás
me traz o trato
comigo
alivia minhas chagas
cicatriza minhas certezas abertas
Essa outra torrente
vem pra fechar ciclo
cria em mim a vontade
de largar os vícios
vela novo começo
outro sopro que não o seu
meu vento me movimenta
na direção de outras tormentas
com a esperança de novos destinos
Au revoir, sequinho!

Carola Bitencourt
04/02/2019
M.F

16 de jan. de 2019

Se essa intensão passa
diz o tempo
Tensão espalhada em ocasião
se dissipa
fica momento
Prazer
Se só tesão permanece
pouco se estabelece no outro
por outro lado,
eu, por mim,
agarrava o tempo todo
Indagar casualidade
confortável não saber
me é novo
parte do processo
começado antes
outrem
ontem
um que ainda se mantem
de forma distinta
Se mesmo nesse
do nada não der nada
espero que seja leve
de forma sucinta
que se releve o querer
e siga
Consigo mesmos
como amigos
pelo menos.

16/01/2019
Carola Bitencourt
M.F.

4 de jan. de 2019

O que eu quero mais é mar
Amar meu corpo
me ver linda desse jeito
SER
como sou
Andar ao encontro de águas
Achar beleza em mim

Eu quero paz
Passar por tudo e por todos
Manter poder nas minhas coxas
pra fortalecer a MINHA auto-estima

Quero mesmo é trabalhar
no que me dá prazer
nessa melhora no mundo que tanto peço
e hoje posso FAZER

Eu quero tudo
Estar munida de todos
ao redor meu
que me crescem, somam
sem sumir

Assumir a direção do meu rumo
Partir sem quebrar a massa
encefálica
Continuar a seguir minha sina
Ensinar a mim mesma
que só eu tenho responsabilidade
por criar felicidade
na minha vida

Atender aos meus pedidos
ouvir meus gritos
e sarar minhas chagas
sozinha
porque meu poder é esse
Evoluir dos meus erros
Tratar meus podres
com sorrisos pro espelho
Dentro

Compartilhar meu melhor
comigo

Agarrar meu dorso
com garras de guerreira
essas que tenho e as vezes empresto
sem prestar

Prostrar-me perante minha própria santidade
Criar cultos
que evoquem
minha inteligente sanidade
MENTAL

Permanecer convicta
de que não há parceria 
mais necessária, funcional
e bonita
que essa que fecho
ao me dar as mãos
que esta que celo
no cerne do meu eixo

Quero gravar e não esquecer
que não há quem me queira mais
além de mim,
NEM MESMO VOCÊ!

Quero banho de cachoeira
subir natureza descalça
receber o sol saudável
nessa pele de mulher
satisfeita!

Quero arrancar barreiras
realizar feitos infinitos
que durem mais que minha
existência

Quero a chuva e seu raios
me abrindo o gozo
De me sentir inteira
e COMPLETA!

Quero, e já sou tanto,
que não admito qualquer distração
ou desvio
desses meus objetivos!

Nada nem ninguém
que me gere pranto
Nenhum dizer
pode calar minha voz

Descanse, VOU em paz!

Carola Bitencourt
04/01/2019

3 de jan. de 2019

Porque desanda
vaza pela mão
corre feito ano contemporâneo
de um passo, um dito
um carrasco sentimento
sai o grito
desespero
e desanda
paira raro
infante afortunado
mimado por querência

Extravasa vazio
Peito aberto, sozinho

Porque sessa
seco de saudade
essas vidas cruzadas
esses tantos árduos
ardem carentes,
crentes de si mesmos
mastros tortos soltos
no mar bravio

E se esvaem
na busca de outro sol
pra cobrir o ontem
que não aconteceu.

Carola Bitencourt
03/10/2019

1 de jan. de 2019

Sobre "arrependidos":
Quando a gente insistiu que o voto não era puramente por proposta de governo - porque obviamente não há coerência com objetivos de políticas públicas que prezem pelo povo, o que deveria ser a principal preocupação em termos práticos - e sim porque o candidato em questão expõe ao avesso a falta de caráter, altruísmo e empatia dos seus apoiadores não houve uma fagulha de abertura para uma discussão civilizada, visto que a postura desses apoiadores sempre foi a de olhar pro próprio umbigo.
Agora que as ações do candidato eleito estão se provando nocivas, como já havíamos alertado, seus apoiadores se intitulam "arrependidos".
Ora, nada têm a ver com arrependimento ou remorso. O que fica cada vez mais claro é que a grande maioria continua se baseando nos resultados diretos em suas próprias vidas. Ou seja, se os atinge diretamente tomam a atitude de demonstrar-se arrependidos. Não por terem feito uma escolha que atinge aos milhões e por perceberem o dano, mas porque sua escolha lhes fere o dia-a-dia, dentro de seus cotidianos e limitado a eles.
Portanto, enquanto tratamos pessoas que se voltam contra suas próprias escolhas como sendo equívocos pessoais e não a real demonstração de suas personalidades cruéis estaremos como o cão atrás do próprio rabo.
É preciso dar nome aos algozes, ou do contrário lhes daremos anistia eterna.
Arrependidos são os que compreendem o mal que fazem para além de si mesmos.
Os apoiadores do candidato eleito nada tem de arrependidos. O nome destes é outro.
Há que haver a passagem de conhecimento, mas o perdão só pode ser dado a quem de fato se arrepende.
Essa falta
essa vontade
acaba
cedo ou tanto
que evaporada
nem goteja o teto
Tento trazer
pra trás de antes
o tempo
Posso parar agora
sem saber se certeza
ou equívoco
me levou a evocar
presença tão vil
volatez de ser rarefeito
essa que tem você
nos melhores dias
essa que me gruda a garra
no ar ventilado
pela sua passada
Pairando no jazz
faço outro pedido
venha me dar o ar da graça
enquanto ainda temos sentido
Amanhã acaba, querido,
e escrevo pra outro cara
Carola Bitencourt
03/11/2018
B.C.
O tanto que não digo
não deixa de ser verdade
Fico mantendo em segredo
o muito de vontade
pra não gastar essa crescente
de dentro
pra preservar um depois que almejo
Paro muito as falas minhas
porque não quero que vc saiba
não ainda
quanto de mim está entregue
Trago no peito
superadas marcas
Por isso me reservo o direito
de observar seu jeito
sem te dizer o quanto me agrada
Tento não pensar em quanto durará
essa história
Tento aproveitar tão somente o agora
na esperança que o encanto se estenda
para além da lembrança
muitos momentos
enquanto nos guardamos carinho
Já temos apelido
e um combinado de brincadeira
quem sabe no outono
sejamos juntos,
mais que encontro pueril,
agulhas achadas no palheiro.

Carola Bitencourt
01/01/2019
M.F.