30 de dez. de 2012


"os livros na estante já não tem mais tanta importância. do muito que eu li, do pouco que eu sei, nada me resta. a não ser a vontade de te encontrar. o motivo eu já nem sei..."

meu amor tá perdido por aí
é pra esse, que ainda não conheço, que canto
talvez num quarto crescente
ou numa minguante
a gente se encontre
será de todo jeito um evento
mesmo que o breu seja certo
no centro da nossa saudade
haverá o momento
de reconhecer um no outro
a metade
é nisso que acredito
é nele que me prendo
um amor assim delicado
que será suficiente
pra findar a procura
e fazer meu peito satisfeito!

Carola Bitencourt
30/12/12

4 de dez. de 2012


dona Canô chamou,
mas Morfeu me deu chamego
minha vista embaraçou
um ardido no glóbulo
estou me rendendo
ao marasmo do sono
ao fofo do aconchego
amanhã, manha pra abrir a porta
e descer pro mundo
hoje, trote na hora
vontade: voar soturno
um papo sem pernas
com o amigo de longe
um monte de boas velas
ventando pra não sei onde
eu vejo um veleiro norte
um brio de pé de serra,
mesmo no mar aberto
aqui perto do meu forte
sorte de sonhar sortidos
solstícios de som batido
onda esmeralda cafona
fazendo cafuné no meu umbigo.
boa noite, caro distante
um dia, te abraço comigo.

Carola Bitencourt
04/12/2012

3 de dez. de 2012

Passeando presente dela
pelas ruas de Sevilha
imaginou injetar-se
lembranças, como vacina.

para quando fosse dali
poder voltar a habitá-las,
uma e outras, e duplamente,
a mulher, ruas e praças

Assim foi entretecendo
entre ela e Sevilha
fios de memória, para te-las
no só e ambiguo tecido

...
Mas desconvivendo delas,
longe da vila e do corpo,
viu que a tela da lembrança
se foi puindo pouco a pouco
...
A lembrança foi perdendo
a trama exata tecida
até um sépia diluído
de fotografia antiga.
Mas o que perdeu de exato
da outra forma recupera:
que hoje qualquer coisa de uma
traz da outra sua atmosfera.

( João Cabral de Melo Neto
“O Profissional de Memória”)