30 de dez. de 2012


"os livros na estante já não tem mais tanta importância. do muito que eu li, do pouco que eu sei, nada me resta. a não ser a vontade de te encontrar. o motivo eu já nem sei..."

meu amor tá perdido por aí
é pra esse, que ainda não conheço, que canto
talvez num quarto crescente
ou numa minguante
a gente se encontre
será de todo jeito um evento
mesmo que o breu seja certo
no centro da nossa saudade
haverá o momento
de reconhecer um no outro
a metade
é nisso que acredito
é nele que me prendo
um amor assim delicado
que será suficiente
pra findar a procura
e fazer meu peito satisfeito!

Carola Bitencourt
30/12/12

4 de dez. de 2012


dona Canô chamou,
mas Morfeu me deu chamego
minha vista embaraçou
um ardido no glóbulo
estou me rendendo
ao marasmo do sono
ao fofo do aconchego
amanhã, manha pra abrir a porta
e descer pro mundo
hoje, trote na hora
vontade: voar soturno
um papo sem pernas
com o amigo de longe
um monte de boas velas
ventando pra não sei onde
eu vejo um veleiro norte
um brio de pé de serra,
mesmo no mar aberto
aqui perto do meu forte
sorte de sonhar sortidos
solstícios de som batido
onda esmeralda cafona
fazendo cafuné no meu umbigo.
boa noite, caro distante
um dia, te abraço comigo.

Carola Bitencourt
04/12/2012

3 de dez. de 2012

Passeando presente dela
pelas ruas de Sevilha
imaginou injetar-se
lembranças, como vacina.

para quando fosse dali
poder voltar a habitá-las,
uma e outras, e duplamente,
a mulher, ruas e praças

Assim foi entretecendo
entre ela e Sevilha
fios de memória, para te-las
no só e ambiguo tecido

...
Mas desconvivendo delas,
longe da vila e do corpo,
viu que a tela da lembrança
se foi puindo pouco a pouco
...
A lembrança foi perdendo
a trama exata tecida
até um sépia diluído
de fotografia antiga.
Mas o que perdeu de exato
da outra forma recupera:
que hoje qualquer coisa de uma
traz da outra sua atmosfera.

( João Cabral de Melo Neto
“O Profissional de Memória”)

29 de nov. de 2012

não chove.
prendo alguma gota de dor que de mim não cai
nem todos os dias são sãos
e eu dalilei minha força rota
num haicai alexandrino
como se tal existisse
dominei meu grito justo
torcendo a ponta interna do umbigo
tudo pra ser mais amena
pra tornar mais serena uma noite seca
aqui dentro é doce
a aceitação do fracasso
em agradar um cego
que não apalpa o próprio carma
tenho ciúme das companhias impunes de consciência coletiva
ou a falta dela lhes dá diferente ponto de vista
o foco na luz objetiva
a foto do pus nessa ogiva programada
que a gente teima em dar o nome de relacionamento
o monte de baboseiras ditas
somos babalorixás em transe
cobrando 20 reais
numa esquina suja
e ainda mais limpa
que o amor ímpar que a gente se jura.
não venha me acalantar
hoje é tempo de choro
não penso em calar o vento
que me sacode a acordes
de guitarra distorcida
esse tempo passa
e pretendo aproveitá-lo o quanto possível
pra não deixar nenhuma gota presa
dessa chuva liberada na pálpebra.

Carola Bitencourt
29/11/2012

25 de nov. de 2012

Rabiscar
rebuscar a forma
biscatear um jeito
de avassalar a norma
avançar a borda:
o calcanhar do feito.

Carola Bitencourt
18/04/2006
Se as primeiras impressões são as que ficam,
esqueça aquela em que o nervosismo
fincou em mim a fala bruta.
Se houver ainda algum resquício
de vontade recíproca
lembre-se das gargalhadas de antes
inversas diante da fome
em que açoitamos minutos
como meros coadjuvantes
Esqueça essa minha tensão
com os pratos requintados,
que pra mim, nada mais são,
que doces deleites não comumente visitados
Lembre-se daquela saudável conversa
banhada a goles de olhos inebriados
e um bocado de vozes roucas
no pé do ouvido embriagado
Guarde a audácia pouca e interessante
da liberdade aberta em te encontrar na quinta
entregue o abraço frouxo
à força sísmica entalhada nas falhas do laço
entre o seu braço e o meu pescoço
me receba com mais que um pequeno sorriso
mas um grande brilho refletido na íris
ao me entortar prazerosamente o dorso
Se existe ainda alguma chance de deixar
o cícero não ser trilha de terror
mande a marisa fazer o curso do contador
e eu farei o gelo derreter com suor.

Carola Bitencourt
25/11/2012

18 de nov. de 2012


to naquela hora em que a gente tira a bateria do telefone,
ou se asfixia no dia seguinte.
naquele momento em que a altivez da razão já deixou de lado a voz tonante alta,
e faz agora um backing vocal da emocional sinceridade,
daquelas que exasperam a fixação em reter o âmago,
e desembocar o líquido excessivo.
nessa vontade astuta de trazer o desejado
sem contar som cantado ou veste visível.
são essas vezes que mudam a vida,
ou te atropelam a caminhada feita
nessas é que se repensa a carapuça,
ou se pinta o rosto de colorido.
Agora é quando decido que tipo de pele me cobre
se aquela em que sinto frio,
ou se a outra em que meu sangue é sorte..
Sem medo de errar a medida
prefiro meu edredom de soft.
E boa noite.
Que o sol amanhã me acorde.

Carola Bitencourt
18/11/2012

12 de nov. de 2012

Vejo gente que se preocupa com as cartas de natal que as crianças intoxicadas de falta de afeto e fartura deixam nos correios aos montes, como bancos de neve de um papai noel fantástico.
Além da incoerência de colocar um velhinho branco, barbudo, barrigudo, que veste roupas de frio num calor de 40°, como representante de uma esperança obsoleta de que um objeto numa data específica pode trazer algum alento aos famintos de carinho, ainda me pergunto se ninguém percebe a inconsistência de colocar nessa atitude (comprar presente de caridade) sua prova de amor ao próximo.
Certamente, há de haver um susto quando me digo indignada com essa falsa sensação de saciedade a que se dá o prazer o ajudante do natal dos pobres.
Além de contribuir pra maior fonte de desigualdade social do mundo (o capitalismo), ainda há a ideia de que ao entregar o comprado, o resultado será um belo sorriso, e um rostinho mais feliz pra esses desprovidos: por algumas horas, ou até que o brinquedo se quebre.
Meu rostinho fica bem sisudo.
Percebo o quanto estamos engodados nessa trama fatal do espírito natalino, do ato filantropo, da ajuda superficial, em prol de um minuto de alegria.
Que tal, se ao invés de ler cartas anonimas, nos déssemos ao trabalho de ler numa escola, ou num centro comunitário, ou na casa da mãe joana com dez filhos, a importância de votar, pensar e usar camisinha? Tenho certeza que no natal que vem, não viriam pedir a superficialidade de um pedaço de plástico...



É muita coisa pra fazer,
pra ler,
pra organizar,
pra beber,
pra ouvir,
pra curtir,
assistir,
gargalhar.
é tanto não sei dizer,
tanta cara pálida peluda,
tanta razão homeopática,
tanta balela pesada nesse mar de baleias sorumbáticas
que a gente fica assim
nesse marasmo de mim, você, eu, aquele, quem, quando, quanto, por que tanto?
parece que a gente merece a mercê que exerce,
e deixa de ver a voz do vulto da consciência,
que já tá tão invisível quanto o indivíduo dividido.
quantas horas olhando o espelho refletido com o eixo do outro
quanto exu exuberante querendo ser estrela cadente
um moinho de cento e cinquenta tons de transparência.
e basta um sorriso diferente
pra se criar uma enchente de crença no deserto da esperança...

Carola Bitencourt
12/11/12

3 de set. de 2012

Mais uma carta que te endereço.
todas as outras não mandei,
essa ao menos está escrita
contrária a mania minha de ditá-las a mim mesma
e deixa-las amarelando ao passar dos neurônios
dentro do meu cerebelo

outras palavras ditas que nunca chegarão ao seu ouvido
mais algumas linhas estraviadas da lembrança que não teremos
estão jogadas sem vento algum pra levar a fertilização

te pensar não satisfaz
mas afaga a falta que sinto
me iludo nas alusões a outros casos parecidos
que uso pra injetar nas lacunas vazias
dessa nossa que não existe

fixo o ponto de não creio
assim como a devota devolvendo à vela
alguma esperança mácula.

mantenho os pés no chão
e a alma presa a estrutura
dos bichos de asas leves e sem gravidade

nem sambo, e caio, não tropeço
trôpega te peço um pedaço
dessa sorte arteira que te abraça
a dar-lhe a fagulha de riso contido no canto da boca
exijo ao menos que eu não seja solta antes de estar perto
da crista das árvores
pra que a queda não me quebre inteira os cacos remendados e frágeis.

Carola Bitencourt
03/09/2012
Nunca fui (a)política
Nunca fui católica
nem apocalítica

Aposto uma hóstia pálida
como não chego as cólicas
outras vezes farei sádica
o corte módico na parte ácida
será certeiro o profundo ócio
apedrejando meu pesadelo
o dedo apontando o ópio
e a razão pedindo zelo
os erros bastardos escarnecidos
voltarão a soltar-se dos pelos
entre a pele será escarnecida
a alva doçura da plebe
enquanto os rumos subirem aos cumes
continuaremos sem prumo
com costumes impuros
impróprios para banho
e o cúmulo de consciência obtida
será a assinatura no cheque em branco.

Carola Bitencourt
24/09/2012

19 de jul. de 2012

Esses roucos rasgam a alma
trazem da garganta a ranhura esquecida
na esperança a rima disfarçada de dor
Afeição nas letras, canções
emocionadas poesias descritas
no traste do braço traçado de notas
embrulhando os tímpanos com seda chinesa
criando azeite pra delícia da língua
Música, mística miscelânea
outras vozes que retraem as vértebras
se quebram em teclas na tela.
Eu vi, estou ouvindo.

Carola Bitencourt
19/07/2012
Seal e Dave Matthews cantarem Beattles e John Lenon

17 de jul. de 2012

São tantos elos
egos "àflora"
produtos do eco eco,
Eco do mesmo cego
coração,
porão das armas
os cabelos tão gritantes
quanto as vozes
e luzes ofuscantes
reluzionando
um assento circunflexo
Paro por um instante
e temo, o tentar
de parar a rima
pois da velocidade que quero
sai a vontade de
cair, de um alto
pra cima.
Observo as palmas
à frente
dizer atriz efêmera
ais fêmeas
o calor de palma batida
em coro.
A jogada de rosa
no fim do presságio
do-in do aplauso.

Carola Bitencourt
ainda era carol
14/11/2006

10 de jun. de 2012

ainda há uma aqui dentro que se refaz feito gato
com sete vidas, e umas entre-linhas
tantas dessa mesma que se retrai no precipício
algumas que pulam no impulso
outras que se explodem
em respingos nos is
o quebra cabeças se organiza aqui:
no caminho das letras de certas verdades
que não consigo esconder
galopada em potro
na desordem desse cérebro coxo e sagaz
posso ter ideias corrompidas
ameaças de desprezo pós apresentação
mesmo assim, não morro na praia
tiro sempre minha conclusão
nem pela culatra, nem pelas beiradas
minha virtude é ir direto ao fundo
apneia mental é meu exercício diário
nesse Cão mundo
o que está a minha volta, percebo.
se aos demais lhes vale a cegueira,
sinto muitíssimo obrigada,
a mim só me cabe a verdade!

Carola Bitencourt
10/06/2012
é bom que seja raro
que deixe o dia raso, sem horas suficientes
é melhor se for honesto,
um bocado atraente pelos dentes
seja alto dentre os todos de mesmo tamanho
que seja sentido, pontiagudo e almeje o céu
que dele caia
plumamente papel
com recado
com pecado rente a santidade eterna
encontre nos fios uma trança serena
faça serrote nas idas tornadas vindas
recomeço infindo
cores, ardores e mimos
memórias sem botão delete
no leito de raízes encrostadas na pele
se pudesse ser mais
virar de esquerdo pra perfeito
sem vaias nem força
outra virtude de fora da sorte
servido em pote com cobertura
deliciado derretido pela boca
uma dessas quimeras realistas
relacionadas a palpites certeiros
dosadas sem censura, nem consumismo

é bom que exista,
ou meu tempo aqui jamais termina...

Carola Bitencourt
10/06/2012
Me frustro sim! Aceito toda essa sensação de impotência, sei que ela também passa, mas enquanto não passa, consigo um segundo de paz enquanto a descrevo:
Minha frustração vem quando percebo que o engraçado é sempre mais valorizado que o sincero. Que todo o esforço só é reconhecido quando destacado. Ser ordinal é ser sodomizado pelo ego alheio.
Me irrito com facilidade ainda, a diferença é que hoje não grito, engulo porque não vejo motivo em destacar o erro uma vez que esse não será reparado, nem mesmo haverá tentativa de desfaze-lo.
Toda a ação gasta, todo o esforço em se fazer necessário é desnecessário. Quanto mais se dá de si, mais é perdido nos infinitos dos outros. Concordo mais com Simone: "O Inferno Sou Eu", do que com Sartre: "O Inferno São os Outros".
Invejo os egoístas e sua liberdade em não esperar de si mesmo, ou de nenhum externo, o retorno, igualitário, proporcional ou mesmo interno. Invejo os engraçados, com eles ficam todos os olhares admirados. Invejo os 220 volts, desses que acabam fazendo tanta coisa que só tem tempo de reclamar da falta de tempo e nenhum minuto lhes sobra pra observar em volta.
Adoraria também não considerar a aprovação alheia, afinal, os únicos que não a consideram são os que já a possuem.

É muito possível que tudo seja só uma questão de expectativas muito elevadas quando esperadas dessa categoria animal tão perfeitamente perturbada...

Imagino que sejam somente momentos de realidade que me arrebatam pra atacar minha consciência frágil que não acata a convenção de sermos todos tão insignificantes.

Normalmente se termina com uma moral da história que traz alento. Dessa vez, não. Hoje.

Carola Bitencourt
10/06/2012

1 de jun. de 2012

Felicidade deveria ser engarrafada para ser tomada no momento da falta de alegria.
Problema é que felicidade vicia.

8 de mai. de 2012

Quero amor meio dia.
quando o sol dita a vez de responsabilidade
e a saudade sobe a tez sorrateira.
Quero mensagem as 22, marcando a hora pra daqui meia
com um sorriso me vendo descer a rua sem que eu tenha percebido.
Quero ouvir a voz, ao invés de música colada na página do face
o real no caos da ligação humana.
Quero o que acontece de físico
nessa vontade mítica de encolher distâncias.
Quero o aperto tísico do abraço na cama.
Mais atrito íntimo reverberando a parede sólida.
Quero mais do que esse mero conceito de me abrir a porta.
Prefiro a liberdade atual em escolher
quem não vai aquecer minhas costas
e o respeito crescente que tenho por elas
é o que me faz deixa-las descobertas agora.
Sigo concretizando o que creio ser a certeza que me concentra.
Quem sabe no meio do caminho a procura me encontra?...

Carola Bitencourt
08/05/2012

1 de mai. de 2012

tolero português errado porque se não perco metade das pessoas que gosto. aturo a chatice alheia porque se não me perco nessa fronteira entre eu e o outro. gosto desse poder sobre mim quando ele não me subtrai. assisto o que faz a sobrevivencia ser fim quando ela não retrai. gosto quando bebo enfim, e isso não satisfaz. acredito no sim por talvez por ser um leve trás. não me venha dizer que vc não entende quando isso é o que te faz! saber é mais do que gosto se o ser é um simples sagaz! Carola Bitencourt 30/04/2012

18 de abr. de 2012

Há uma esfera soberana de tirania múltipla, que não escolhe por raça, classe ou estado, a quem sobrepujar. Uma esfera não exclusa da nossa atmosfera vigente, que engloba como verniz a nossa.
Pode-se chorar contanto que seja miseravelmente. Não há possibilidade de um choro digno. Todas as fraquezas demonstradas são automaticamente traduzidas em insignificância, como se o fato de estar fraco em algum momento o tornasse desprezível e desnecessário ao convívio alheio pelo tempo de uma vida.
Imagino, se a beleza tem sua ditadura, como se chamaria o que temos com o estado de espírito: despotismo?
Depositamos esse absolutismo vão, vago, lúgubre e insolúvel no que há de mais puro: os sentidos.
É preciso estar em eterno teor de alegria, sóbria e constante de tal forma que o ao redor jamais se dê conta da vontade de colo que se tenha. Caso contrário, estamos em posição de piedade, e mesmo que de forma pueril, basta para criar a ojeriza geral destes fortes intocáveis.
Caçamos tanto uma felicidade utópica que ao menor sinal do que julgamos fracasso dessa busca ao tesouro marcada com um X no mapa de couro, obviamente previsível, abominamos a possibilidade de admiração pelo sujeito sincero que assume sua sensação valendo-se de nada mais que o verdadeiro ser-sentir.
Abre-se uma guerra, plastificada pelos soldadinhos de chumbo preguiçosos demais pra pensar por si mesmos, contra aqueles a quem a lágrima desce belamente sem vergonha.
“Nem todos os dias são bons. Eu continuo sorrindo. Nem todos os dias são bons, mas eu continuo sorrindo. E se aparece um que não mostre até os molares, que amole outro: esta felicidade é tão frágil quanto a certeza de estar no caminho certo.”
- É, eu, Carola, sinto! Muito: “eu gosto dos que tem fome, que morrem de vontade, dos que secam de desejo, dos que ardem”. Esses fortes não reinam minha diretriz, e quando choro me sinto rainha, certamente, não de um castelo de cartas marcadas.
Sejamos mais honestos com a emoção, meus meros caros impermeáveis!

Carola Bitencourt
18/04/2012

17 de abr. de 2012

Mais uma vez veio a noite
varreu o claro espanando a vela acesa
Mais uma vez o cansaço e a destreza de se jogar na cama
antes trono de horas cobertas de estudo musical e filosófico
Agora banheira de formol
objetivo cínico: outro dia laboral

Tive o vislumbre na borda da hora
uma vista meio apagada no foco borrado
uma vontade sem verdade estórica
outra manha ignorada na carência eufórica
metade silêncio e outro meio vício

Rascunhei alguns palpites
Salvei serenatas inativas
pestanas de trastes desconectos
até cair novamente na natural dúbia notívaga
Meu sono, minha corda, minha bebida.

Carola Bitencourt
17/04/2012

9 de abr. de 2012

não há um dia sequer em que meu violão não me traga a lembrança dele.
todas as vezes que passo no catete, me lembro dos gatos e do lanche/almoço pão de forma e iogurte.
se estou triste o replay instantâneo da sua voz me vem ao ouvido dizer que é desnecessário adiantar o inadiável.
a saudade é um balde transbordante do melhor vinho!
desperdício impropício de tanto sentimento proporcionalmente sem sentido.

que falta me faz M.C.R.F.

19 de mar. de 2012

Papai Paulo me suspira
umas me tiras do on vido
Não inspira pelos pulmões,
mas dá sopro de força aos dedos
batendo nas telas de letra, pretas
a supetões de martelada
duma mente malacalmada
dormindo na cama durante o dia
pra curar amidalite inflambada.
Limão, chá de sumiço do trampo,
e tempo jogado em hora sem proveito
com único objetivo de ressuscitar células
com antibiótico, anti-sócio, anti-feito
nesse momento a monotonia é a solução
descansar o corpo e não engolir pão: porque dói.
Sopa, água ambiente e muita febre de vontade.
Só vontade, já que a execução foi adiada
pra quando a patologia for apartada.
Despertar o celular de doze em doze
E não esquecer o copo pra descer o remédio
Ironicamente grande pra quem tem as vias fechadas.
Uma folga perdida em casa,
e uma ânsia de não pegar mais vento de madrugada
que obviamente será esquecida
depois de uma semana curada.

Carolina Bitencourt
19/03/2012

14 de mar. de 2012

Não sou uma pessoa de um grande talento incrível.
Sou pessoa de vários talentos pequenos e únicos.
As vezes finjo que o SBP é uma lata de spray e grafito a morte dos mosquitos no ar.
Quando pinto as unhas do pé, imagino que são o branco nos brincos de pérola do quadro barroco de 1900 que pintei em outra época.
Faço uma varredura no disco rígido do cérebro toda noite, ou dia, antes de dormir. E desconecto as mensagens instantâneas entre meu córtex e seus núcleos quando bocejo o último soneca da máquina de pensar.
Se assisto um filme sinto a lágrima escorrer na minha tela por dentro da pálpebra.
Toda vez que escrevo vejo as linhas dos cadernos de caligrafia que eu percebia entre as linhas amarelas do asfalto, ao atravessar a rua de mãos dadas com a responsável.
Sou viciada em caixas de sapato mais que pastas sanfonadas com divisórias.
Começo o banho lavando a mesma coisa que lavo de novo quando termino.
Não sou uma pessoa de um pensamento incrível.
Sou uma pessoa de pensamento aberto!

Carola Bitencourt

12 de mar. de 2012

O relógio bateu errado
Deixei uma guitarra partida
e um coração quebrado
Um fala muito
o outro pensa pouco demais
Minha vontade agora descansa
entre uma pista redonda
e umas rodas minimalistas
quase o círculo que piso
quando o riso força as vias lacrimais
Olho praquele que deu à deus a deusa
see you later alligator
goood bye!

Carola Bitencourt
12/03/2012

1 de mar. de 2012

Vem me iludir
Me rasgar a cicatriz
Vem me dar o tapa na cara
Por puro gostar da brutalidade
Vem amarrar minha mão ao santo
Vem me cuspir o pranto que jorrei
Traz meu verdadeiro pânico
Em forma de travesseiro
Pra acompanhar os sonhos que durmo

Vem saquear minhas boas lembranças
Corte minha carne cerebral flácida
A fim de expor minha fragilidade
Recrie o monstro debaixo da minha cama
Gargalhe da minha esperança
A ponto de ser o cristo vestido de demônio.

Sove minha sorte com galhos de azar
Corte as asas que acabei de sarar
Bloqueie com muros espessos de cimento
Meu céu azulado e livre
Quebre minha auto-estima em cacos
Aposte todas as fichas no meu fracasso

Seja o capataz
A me laçar as pernas enquanto corro,
meu algoz, a me ralar a pele.

Seja quem você é.
Deixe-me no pó da fogueira
Cinza esfumaçada.

Meu bem,
Só não se esqueça:
Todos esses tratos maus
são curáveis.
E me servem
Pra clarear a consciência.

Quando erguida,
A única coisa que não ressuscitará
Será você
Dentro de mim!

Carola Bitencourt
11/08/2011

28 de fev. de 2012

Um amor perdido no espaço
sem achar a ponta do laço de estreia
Esse é meu amor
sem feixe de luz
que lhe de direção,
uma flecha lançada sem mira
a despeito do céu rasgado
encontrando o chão,
lacuna aberta da resposta sina
cavada na voz de um violão

Sim.
Ainda amo!
aquele momento insólito de conexão,
as risadas frouxas sem risco de atrito,
os olhos apertados em volta do grito,
as mãos abraçadas em torno da nuca
tantas vezes cansadas e satisfeitas

E falta

Até que recordo da corda no pescoço
as faces viradas acima do dorso
o desdém de ir sem olhar pra trás
a frieza nítida do “não serve mais”

Lembro sorrindo das noites de água,
do cantar soluçado surtindo efeito,
flores nos dias de fraqueza
e beijos de despedida

Até que me vem o motivo
de tanta força pra tornar desconhecido
o tal ar soberbo e obedecido
de acusar meu lado de única causa
prum mar de ódio em que eu não era nascente
uma fúria de vento gelado cortando minha essência
toda a certeza de me querer pra cristo
Matando minha beleza pra dizer que existe
insistindo no erro de fingir
antes que se convença,
criando o alimento podre
como lavagem de porco pra borboletas

Prefiro meu amor de hoje
sem objeto
Nada objetivo
do que o "meu bem" passado.

Suspiro com o que pode amortecer o ontem,
com o futuro incerto
que ainda sonho em acertar em cheio
numa silhueta definida na minha cabeça...

Nem sei se vou encontrar.
Talvez já me baste a quimera
a voz da consciência que volta a me afagar
A ideia absorta em pensamentos cotidianos
dando novo folego
a essa procura sem preocupação de achar

Terei um príncipe encantado em cavalo branco
e nele, selado, galopar, galopar, galopar

alvo flechado

a vista presa no ar!

Carola Bitencourt
28/02/2012

26 de jan. de 2012

Tem quem goste, ô se tem

Tem quem se lambuze

Tem quem se assunte
na minha íris cor de rosa
quando o susto arregala as pálpebras
Tem até quem se confunda
com o sorriso largo
dado de bandeja
pela prata do hoje, do momento oportuno
que entrego sem cobrança.

Tem de um tudo,
o pouco, o mito
o todo.

Tem um tolo que quer ressuscitar
um poder mórbido.
Tem o anjo de coroa de espinhos
preto,
como a noite em que visitamos
a cidade do império
Tem tantos tipos
e tantos gostos
que meu rosto se espalha
no fio da navalha que vivo e gargalho

Tem um tempo meu que ninguém toma
minha meninice sapecada de compromisso comigo
Alegria dividida com os sangues úteis.
Nenhum desperdício
só a sutileza do vício pelo ócio

Sonho mais,
assumo o consumismo
da diversão que uso

gosto, gozto e me lambuzo!

Carola Bitencourt
26/01/2012

17 de jan. de 2012

Há um que já se vai despido
Um qualquer que viajará sem despedida
uma parte minha sem janela,
ou uma ventana fechando a traqueia

Um quarto beje de sentido latejante
uma cabeça que dói sem dorflex
num travesseiro sem altura certa!

Há um mais longe
que já está planejado

Uma vez ido volta já mais calculado

Uma cozinha de alma
cerzida em banho maria
outro tampa de diabólicas medidas

Há tanto mar quanto rodovia

Entre esses minha sincera agonia

De ver mais sábia o que me dizia:

Dônde estabas, Carola?

EU ME MANTENHO ESCONDIDA!

Carola Bitencourt
17/01/2012

3 de jan. de 2012

Aqui o ano só começa depois do carnaval
E a festa da carne se esfrega
Entre a sexta feira santa,
o dia de reis e o recém nascido Natal.

Aqui as folhas caem no verão.
Outro outono póstumo.

A Avenida Presidente Vargas fica amarela e preta,
com essas mortas espalhadas,
esvoaçantes, conforme os carros
sobre passam seus corpos.

O sol volta a aparecer
Depois de dado por finado,
reluz um cado delas em cada lado
das vias.
A calmaria irritante do pós-feriado,
essa noite fria que foi ontem
atrasam a vinda do dia
em que a paz encontrará a sabedoria.

Nessa hora
teremos a horda dos espertos
que se dirão responsáveis
pela boa época;

Os verdadeiros responsáveis por ela
abrirão mão da réplica,
do reconhecimento,
por conta da felicidade do momento
e por sentir nele a resignação.

Será que fará diferença
aquela vez em que as folhas
caíram na hora errada?

Ou seremos como os felizes
e não nos lembraremos das metades,
incompatíveis, que foram deixadas?

Aqui as folhas se jogam
Suicidas post-mortem
como fossem mártires glorificadas
merecedoras do mármore,
das homenagens e das estátuas.

Se alguém me provar
Que nessa ordem eu sou a louca e não o luto,
a bruta e não a luta.
Assino cega
O atestado de maluco.
Me tacho de louca
calo meu susto e minha meta!

Carola Bitencourt
03/01/2012