3 de set. de 2012

Mais uma carta que te endereço.
todas as outras não mandei,
essa ao menos está escrita
contrária a mania minha de ditá-las a mim mesma
e deixa-las amarelando ao passar dos neurônios
dentro do meu cerebelo

outras palavras ditas que nunca chegarão ao seu ouvido
mais algumas linhas estraviadas da lembrança que não teremos
estão jogadas sem vento algum pra levar a fertilização

te pensar não satisfaz
mas afaga a falta que sinto
me iludo nas alusões a outros casos parecidos
que uso pra injetar nas lacunas vazias
dessa nossa que não existe

fixo o ponto de não creio
assim como a devota devolvendo à vela
alguma esperança mácula.

mantenho os pés no chão
e a alma presa a estrutura
dos bichos de asas leves e sem gravidade

nem sambo, e caio, não tropeço
trôpega te peço um pedaço
dessa sorte arteira que te abraça
a dar-lhe a fagulha de riso contido no canto da boca
exijo ao menos que eu não seja solta antes de estar perto
da crista das árvores
pra que a queda não me quebre inteira os cacos remendados e frágeis.

Carola Bitencourt
03/09/2012
Nunca fui (a)política
Nunca fui católica
nem apocalítica

Aposto uma hóstia pálida
como não chego as cólicas
outras vezes farei sádica
o corte módico na parte ácida
será certeiro o profundo ócio
apedrejando meu pesadelo
o dedo apontando o ópio
e a razão pedindo zelo
os erros bastardos escarnecidos
voltarão a soltar-se dos pelos
entre a pele será escarnecida
a alva doçura da plebe
enquanto os rumos subirem aos cumes
continuaremos sem prumo
com costumes impuros
impróprios para banho
e o cúmulo de consciência obtida
será a assinatura no cheque em branco.

Carola Bitencourt
24/09/2012