26 de jan. de 2012

Tem quem goste, ô se tem

Tem quem se lambuze

Tem quem se assunte
na minha íris cor de rosa
quando o susto arregala as pálpebras
Tem até quem se confunda
com o sorriso largo
dado de bandeja
pela prata do hoje, do momento oportuno
que entrego sem cobrança.

Tem de um tudo,
o pouco, o mito
o todo.

Tem um tolo que quer ressuscitar
um poder mórbido.
Tem o anjo de coroa de espinhos
preto,
como a noite em que visitamos
a cidade do império
Tem tantos tipos
e tantos gostos
que meu rosto se espalha
no fio da navalha que vivo e gargalho

Tem um tempo meu que ninguém toma
minha meninice sapecada de compromisso comigo
Alegria dividida com os sangues úteis.
Nenhum desperdício
só a sutileza do vício pelo ócio

Sonho mais,
assumo o consumismo
da diversão que uso

gosto, gozto e me lambuzo!

Carola Bitencourt
26/01/2012

17 de jan. de 2012

Há um que já se vai despido
Um qualquer que viajará sem despedida
uma parte minha sem janela,
ou uma ventana fechando a traqueia

Um quarto beje de sentido latejante
uma cabeça que dói sem dorflex
num travesseiro sem altura certa!

Há um mais longe
que já está planejado

Uma vez ido volta já mais calculado

Uma cozinha de alma
cerzida em banho maria
outro tampa de diabólicas medidas

Há tanto mar quanto rodovia

Entre esses minha sincera agonia

De ver mais sábia o que me dizia:

Dônde estabas, Carola?

EU ME MANTENHO ESCONDIDA!

Carola Bitencourt
17/01/2012

3 de jan. de 2012

Aqui o ano só começa depois do carnaval
E a festa da carne se esfrega
Entre a sexta feira santa,
o dia de reis e o recém nascido Natal.

Aqui as folhas caem no verão.
Outro outono póstumo.

A Avenida Presidente Vargas fica amarela e preta,
com essas mortas espalhadas,
esvoaçantes, conforme os carros
sobre passam seus corpos.

O sol volta a aparecer
Depois de dado por finado,
reluz um cado delas em cada lado
das vias.
A calmaria irritante do pós-feriado,
essa noite fria que foi ontem
atrasam a vinda do dia
em que a paz encontrará a sabedoria.

Nessa hora
teremos a horda dos espertos
que se dirão responsáveis
pela boa época;

Os verdadeiros responsáveis por ela
abrirão mão da réplica,
do reconhecimento,
por conta da felicidade do momento
e por sentir nele a resignação.

Será que fará diferença
aquela vez em que as folhas
caíram na hora errada?

Ou seremos como os felizes
e não nos lembraremos das metades,
incompatíveis, que foram deixadas?

Aqui as folhas se jogam
Suicidas post-mortem
como fossem mártires glorificadas
merecedoras do mármore,
das homenagens e das estátuas.

Se alguém me provar
Que nessa ordem eu sou a louca e não o luto,
a bruta e não a luta.
Assino cega
O atestado de maluco.
Me tacho de louca
calo meu susto e minha meta!

Carola Bitencourt
03/01/2012