26 de jan. de 2015

Meu nome é Carolina.
Carol é um apelido prático e pálido.
Meu avô me chamava de Calú.
E eu me auto intitulei Carola, em homenagem a esse mesmo avô que chamavam Mané Carola, o dono da vendinha que não vendia doce pra criança, e mesmo sem fazer matemática mantinha o costume de dá-los aos menores sorrisos mais abertos todo dia.
Meu nome, eu não me dei, com toda a pompa que Chico criou pra ele em 1967, anos antes de mim – fico querendo crer que minha mãe se inspirou na música dele pra me dar designação, e ao invés de herdar a voz dela, eu herdei os olhos tristes da música dele – ainda considero comum, sem incômodo, mas comum como o costume de ver tantas iguais que nada parecem comigo.
Ainda hoje escuto de cada época da minha vida um chamar diferente. Fui passando de um apelido pra outro, trotando na definição de quem era, quase tratando cada etapa de identidade com um batismo diferente, e posso definir de que era veio aquele amigo por como ele me chama.
Gosto de quem se deixou influenciar pelo meu pedido, quase implorador, de me chamar por como quero, e não por como é mais fácil. Gosto ainda dos que não cedem ao meu desejo, fazem-me lembrar de que nada na vida é ágil, ou acontece por impulso, mas ficam num lugar secreto em que me parece, ainda não me conhecem, e por isso não sabem onde fica.
Depois de tantas músicas, e histórias, sobre Carolinas, Carols, Carolas e afins, caminhamos por passo árduo, pra um lugar que em mim, não tem fim.
Poderia ser Calú, como ainda sou pros mais carinhosos da família, poderia me registrar como Carola, poderia reinventar meu nome de trás pra frente, tal qual criança falando outra língua com a boca cheia de doce. Poderia criar um dicionário, uma árvore alcunhológica só minha. Poderia pedir encarecidamente que minha identidade se faça clara aos olhos alheios...
Mas, pra isso, não preciso mudar de nome. Basta ser chamada.

Carola Bitencourt
27/01/2015.