14 de fev. de 2019


Se eu passar pelo seu bairro toda a espuletisse que tenha no dia se dissipa. Nem a conjugação dos verbos se vertem em verso, fica tudo solto, disléxico, frouxo... O simples lampejo de possibilidade de te ver me desestabiliza por completo, pareço um peão rodado há séculos, quase deitando, mas ainda em movimento, circular e cambaleante. 

Eu sei, foi pouco tempo, mas na minha criatividade foram tantas as realidades que ficção científica de viagem no tempo perde material de trabalho.

Meu celular toca, e sabendo que não é você nem me interesso por atender, só dou a mão à torcer porque ainda tenho uma vida pra resolver. Pronto. Outra reunião, mais um compromisso e a espera de que o tempo cure a ferida que não cutuco, mas relembro sempre.


Música nova no ouvido, outra mensagem do projeto novo, mais um percurso de ônibus e lá vou eu pra longe. Porque uma coisa é certa: por mais perfeito que fosse, nem mesmo a mais bela projeção pode me dar a ilusão de que você me queria, e posso ser flexível pra habitar lugares inóspitos, mas jamais ficarei onde o convite não é feito.

Carola Bitencourt
14/02/2019
M.F.

4 de fev. de 2019

Torrente recorrente
escorre torta
trotando tentativa altiva
de ser forte
e consegue
guia gente
num norte à deriva
da sorte catada
feito foice de sombra
silhueta rubra de vida
gotejada
Frente a falta
façamos mais matrizes
mais raízes do zero
multiplique-se em fonemas
abra mais poemas amados
a mando da não caretice
tracemos armados aramados
emaranhados na manha
de manter arte brotada
nesse mundo cinza
Grite-se, se te agrada
Agarre-se ao traço
Brade a bandeira que te defende
Ofereça o abraço
e receba o afago
Arranque-se, queira ser
destaque distintamente
a voz que expressa você!

Seja torrente
força bruta de água
somada a força da gravidade
e foda-se se a algum não agrade.

Carola Bitencourt
04/02/2019
Assim como no início
chove também agora
no início do fim
Vem pra lavar
o vórtice descendente
uma lavada que acaricia
minha carcaça
que afaga meu tino
de sair em disparada
sem olhar pra trás
me traz o trato
comigo
alivia minhas chagas
cicatriza minhas certezas abertas
Essa outra torrente
vem pra fechar ciclo
cria em mim a vontade
de largar os vícios
vela novo começo
outro sopro que não o seu
meu vento me movimenta
na direção de outras tormentas
com a esperança de novos destinos
Au revoir, sequinho!

Carola Bitencourt
04/02/2019
M.F