26 de mar. de 2019


No meu café pós-almoço
Tem teu gosto amargo
Tem o pouco afago
Carícia que tu me oferece
como esmola de gente mole
pra tapar a inércia de atitude
Tem também a gana
de manter distância e saúde
mental
tal qual minha força de onça
no instinto de proteger
a própria pulsão interna
aquela resposta à duvida
de te chamar pra ser feliz
ou te mandar
pra puta que o pariu
você e todo seu charminho de “to nem aí”
seu descaso com o sucesso
das ex-fomeadas que já te quiseram
vá às forras com tuas gigs
espero que preencham teu vazio
teu lugar egocêntrico
de largar à deriva quem te quis
O fato é que to farta
De tratar como trufa
Quem de fungo não passa
Eu passarinho

Carola Bitencourt
26/03/19
M.F.

23 de mar. de 2019


Tenho várias perguntas pra te fazer
maior parte delas se refere a besteiras
às quais vc adoraria responder
Alguns convites congelados
muitas sugestões em segredo
um monte de horas de risada rasgadas
na possibilidade de acontecer
orgasmos orgânicos
assim espero e suspiro
e umas conchas aconchegantes
assistir uns seriados em streaming
chacoalhar num show em noite de chuva
debate político polido
pipoca, tabaco, Heineken e pensamento crítico
olho no olho, gozo, certeza
abraço sincrônico
companhia por querer
e mais uma porção de participação recíproca
Tudo isso tá guardado
Pra quando a gente se conhecer

Carola Bitencourt
23/03/2019

21 de mar. de 2019


Banalização da absolvição alienada
em busca de redenção
empresta o misto de alcance
com emaranhados relances de impulso
o absurdo a que se prostra
abriga conflitos póstumos
postulados em burocracia hipócrita
crítico crivo altivo de voz
vazia de contento
texto contado por fonema brando
quando o quanto tanto faz
há de vir o algoz regurgitado
bradar vitória usurpada
falácia cheia de sim
a mesma mesa posta
de pratos podres
sobre a toalha de mordaça
com os quais supre
primeiro a famigerada saliva
depois a salva de palmas fracas
francos somente em nomes
listados pra livrar a própria cara
é um chão de vermes infértil
terreno largo sem fronteira
vergonhosa e mal amada
essa Boçal política brasileira

Carola Bitencourt
21/03/2019

20 de mar. de 2019

Respirei teu cheiro
era doce e um tanto áspero
me tomou um torpor pré-apocalíptico

Pairei um tempo
na esperança que se dissolvesse
entre os ventos
ao redor das narinas

Instigada com tamanho brio
me abriguei na tua pele
um gosto de breu me invadiu a boca

Se tornou um vício
desses que incentivam o ócio
dócil como caçador
ao espreitar a presa

Abri até os poros
além dos membros
os olhos já não enxergavam

Fiquei

Absorvida sorteei meu norte
passei a voar à deriva

Perdida na possibilidade de perda
dancei com as Valquírias
antes da oferenda
Me rendi a um sopro de encanto
a sobra era minha sobremesa

Deixei embriagado o omisso destino,
já que esse não fez diferença
Nessa terra em que sou rainha encarcerada
pela minha própria correnteza
só eu posso aspirar
o domínio dos acontecimentos.

Banquei a babaquice de ser forte
como se fosse uma guardiã manca
Mandei matar todas as vozes
que me diziam pra sair
Era eu quem decidia
o dia de falar com a morte


Esse também é pra você
mesmo que não tenha o seu nome

Carola Bitencourt
20/03/2019