18 de set. de 2013

vou dormir desanimada
como duvidando do ninho
não fluiu a conversa de hoje
confesso que avessa
trouxe mais do que foi pedido
não houve interesse mútuo
em conhecer interior alheio
ontem ficou vago
sem sobremesa pro banquete farto
dos outros dias
diria que morre um pouco sem mesmo nascer
essa historinha pra dois dormir

já sabia que sanada a falta
de atenção que tivesse
de antemão me traria
a foice pra cortar a tira
fina e puída
dessa nossa conexão
extraída de uma roleta russa
entre falos soltos, falsos gostos,
gestos ralos e jeitos rotos
ri um bocado, gostei mais do trato,
gastei dedos teclados
mas descrente que me tornei
desacreditei mais uma vez
que vozes certas me viriam
abandono por hora novamente
a diferença vantajosa
da esperança corajosa
que teima em queimar
quimera,
quem me dera...
...já não consigo imaginar

Carola Bitencourt
18/09/2013

9 de set. de 2013

meu rosto não é simétrico
meu senso não é concreto
meu círculo não é aberto
meu suco é cítrico
meu cheiro é mítico
meu posto é módico
minha postura é apóstrofe
minha cintura é agnóstica
minha ciência é póstuma
nossa constante é péssima
nosso castelo é lápide
nosso concerto é rápido
os passos são lentos
os poços são rasos
os poucos são raros
essas saídas são escassas
essas assíduas são parcas
essas sisudas são vagas
toda palavra vaza
toda armadilha escapa
toda razão sufoca
pelo pedido de pele
pela saudade repelida
me despeço sem pressa
essa dispersa perdida.

Carola Bitencourt
09/09/2013

Volto a cama larga
lascivo vácuo latente
teimando me lembrar
a lacuna oca de presença
Pura poeira pairando diurna
numa dimensão que já foi única vertente
Valido a volatilidade veemente
quando abro os braços
e insisto que há verso ainda não escrito
cumpro cada pena
dessa sorte pesada
criando minhas iludidas moradas
no colo alheio
coloco pingos doloridos
nos "i"s de todo indivíduo
duvidoso tanto quanto atraente
trato de tentar
Tardo em trocar
toque com tato
o fardo esfarrapado
que é relacionar
meu sentido com o oferecido ser
que finda cedo ou em parte
sedento do que sedo
sem satisfação aceita em mim.

Carola Bitencourt
26/08/2013

5 de set. de 2013

Nem todos os dias são assim tão bons. Há dias em que o sorriso sai esplêndido por obrigação e se retrai tão rápido que nem parece possível que tenha aparecido. Há vezes em que não se alcança o objetivo e tudo que se quer é outra coisa que não consegue achar, ou porque não está disponível ou porque simplesmente ainda não existe.
Aí você insiste
e hesita em desistir
porque do contrário qual seria a razão de todo o resto?
Resiste em reaver
a vitalidade
porque
na verdade
não pode crer
na cruel realidade. Em alguns dias a noite serve somente para abraçar a escuridão com o breu absoluto. Resolve que é melhor se cobrir de um certo luto pra começar os estágios o mais rápido possível, a fim de que se esvaia logo toda reclamação e então, quem sabe, outro dia mais ensolarado surja.
É a criação da esperança te trazendo
alguma solução
pro que se sabe insolúvel
e de tão concreto vira
insólito monolíto
no universo rarefeito das nossas sensações desastrosas e desajeitadas.
Nesses dias o som correto é Radiohead, a bebida é vinho, comer não faz sentido e o melhor amigo é o par: caneta e papel.
Nem mesmo piadas, ou boas histórias acompanham esses momentos. Mas, fique tranquilo. Momentos que são, vem e vão, dão e passam.

Carola Bitencourt
05/09/2013